Artigo de Opinião
Os problemas da gestão de Itabirito têm como uma de suas causas a fraca atuação dos vereadores. Parece faltar-lhes coragem para enfrentar as dificuldades do cargo, principalmente no que diz respeito à fiscalização do Poder Executivo.
A atuação parlamentar de boa parte passou a seguir um padrão: lacrar nas redes sociais.
A regra é se valer do meio virtual para a prática da demagogia barata: mostram os problemas da gestão da cidade, mas sem apresentar as soluções. E o pior, muitos não tem preparo técnico para sequer fazer uma denúncia ao Ministério Público ou pedir explicação dos responsáveis pelas secretarias, via requerimento.
O roteiro segue um padrão: o parlamentar recebe uma denúncia de um buraco na via, uma fila num posto de saúde ou de um asfalto trincado. A partir daí, de celular em punho, ele faz um vídeo e o posta nas redes sociais.
Mas, não vale apenas postar; tem de fazer pose de indignado, estufar o peito, gritar ameaças e exigir soluções. A coisa já descambou para o histrionismo. Já tivemos vereador aos berros, dando prazo de 72 horas para prefeito e secretário limpar barranco caído. Depois do show é editar, colocar uma logomarca e pedir para o assessor jogar nos grupos de whatsapp ou nas redes sociais. Aí, é esperar os likes e medir o alcance.
Parecem não saber, que além das votações, é dever deles acompanhar o Executivo, sobretudo em relação ao cumprimento das leis e da boa aplicação e gestão dos recursos públicos.
E caso, a administração esteja agindo de forma não republicana cabe a eles tomarem medidas mais concretas e efetivas. Denunciar ao Ministério Público, qualquer indício de irregularidade e má gestão é uma opção óbvia.
Podem também, pedir explicação por escrito por parte do prefeito e dos secretários, por meio dos requerimentos, e inclusive intimar os mandatários do Executivo para se justificarem na câmara.
Acredito que passados dois anos de mandato, os vereadores, sobretudo os de oposição, devem sair da zona de conforto e começar a atuar de forma mais assertiva. É preciso agir em bloco com mais coesão e parar de lacrar nas redes sociais.
As denúncias devem ser mais concretas. Acompanhar as licitações deve ser regra. Fiscalizar in loco a execução dos serviços ou se os produtos adquiridos estão com a qualidade do que foi licitado. E se caso, for detectado qualquer irregularidade, uma denúncia consistente e bem embasada deve ser levada aos órgãos de controle.
Não estou dizendo para largarem as redes sociais, pelo contrário, elas são importantes ferramentas no processo de comunicação entre os políticos e seus eleitores e devem ser utilizadas com parcimônia e com profissionalismo.
Pesquisa de opinião do Instituto DataSenado, feita em 2020, apontou a influência crescente das redes sociais como fonte de informação para o eleitor. Quase metade dos entrevistados (45%) disse ter decidido o voto levando em consideração informações vistas em alguma rede social. E a principal fonte de informação do brasileiro hoje é o aplicativo de troca de mensagens WhatsApp, segundo o levantamento. Das 2,4 mil pessoas entrevistadas, 79% disseram sempre utilizar essa rede social para se informar.
Esse é o triste perfil da maioria de nossos vereadores e vale lembrar que a eleição de 2020, trouxe grande renovação, dos 13, somente cinco foram reeleitos, mas a mudança ao invés de uma melhora trouxe uma piora no mandato parlamentar.
Portanto, creio que ainda é tempo de sair das redes sociais para termos uma gestão de legisladores e não lacradores.
Marcelo Rebelo é jornalista e editor do site Mova-se Inconfidentes