Enquanto o Brasil enfrenta incertezas econômicas e busca equilíbrio fiscal, Itabirito parece ignorar sinais de alerta, seguindo em uma trajetória de gastos que podem comprometer seu futuro. A recente divulgação do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE-MG) trouxe mais um dado alarmante: a cidade lidera o ranking estadual de gastos públicos com shows musicais nos últimos cinco anos, coincidindo com o mandato do prefeito Orlando Caldeira. Foram aproximadamente R$ 11 milhões investidos em espetáculos, superando todas outras cidades mineiras.
Os números expõem uma gestão que aparenta priorizar eventos e festividades em detrimento de uma visão estratégica e de longo prazo. Em um momento em que a economia global dá sinais de desaceleração e Itabirito enfrenta riscos significativos devido à sua dependência da mineração, gastos como esses parecem incompatíveis com o cenário atual.
Outro exemplo desse comportamento é o Natal Iluminado, que custou impressionantes R$ 3.777.000,00 aos cofres públicos, segundo informou em live recente o vereador Renê Butekus. A cifra incluiu decoração de praças e pontos turísticos, postes iluminados, uma pista de patinação, tablado e gerador. Embora ações como essa possam atrair turistas e estimular o comércio local, a falta de moderação é preocupante.
Além disso, os números do próprio TCE evidenciam uma gestão fiscal problemática. Desde 2022, Itabirito gasta mais do que arrecada. Em 2022, arrecadou R$ 662,8 milhões e gastou R$ 674,6 milhões. Em 2023, a situação piorou: a arrecadação foi de R$ 799,7 milhões, mas os gastos chegaram a R$ 1 bilhão. Até agosto de 2024, a cidade já havia gasto R$ 752,1 milhões, enquanto arrecadou R$ 558,5 milhões.
Confira a posição da Secretaria de Fazenda da Prefeitura sobre essa questão
Dependência da Mineração e Riscos à Vista
A economia de Itabirito é amplamente sustentada pela mineração, setor que enfrenta desafios com a queda global no preço do minério de ferro e possíveis alterações nos repasses do ICMS devido à reforma tributária. Se os royalties da mineração diminuírem e os repasses forem reduzidos, a cidade pode enfrentar sérios problemas financeiros, comprometendo serviços essenciais como saúde, educação e infraestrutura.
Gestão Responsável: Uma Necessidade Urgente
Investir em shows e decorações pode ter um impacto positivo no curto prazo, sobretudo eleitoreiro, mas uma gestão pública eficiente exige equilíbrio e planejamento para evitar consequências desastrosas no futuro. Gastos excessivos e desproporcionais, como os milhões investidos em shows e o Natal Iluminado, acredito serem exemplos de prioridades equivocadas.
O momento exige administradores comprometidos com a realidade fiscal, que priorizem investimentos sustentáveis e contemplem as necessidades reais da população. Se os atuais gestores não mudarem o rumo, Itabirito corre o risco de enfrentar uma crise, com impactos que poderão ser sentidos por décadas.
O futuro da cidade está em jogo, e a necessidade de escolher entre a responsabilidade fiscal e a perpetuação da farra dos gastos nunca foi tão evidente.
*Marcelo Rebelo é jornalista e editor do site Mova-se Inconfidentes