Os aplicativos de entrega fornecem renda para os mais jovens – e são execrados pelos “humanistas”

Aplicativos de entrega são opções de renda para os jovens

Artigo de opinião

Há uma verdadeira inflação de artigos e reportagens na internet sobre o número crescente de jovens ciclistas que trabalham como entregadores de aplicativos como Rappi, iFood e UberEats. A intenção é sempre a mesma: ilustrar uma suposta “precarização e exploração do empregados”.

O desemprego entre jovens brasileiros atinge 25,7% (entre 18 e 24 anos). Apenas na capital paulista, há cerca de 30 mil entregadores de aplicativos trabalhando com bicicletas, 75% dos quais entre 18 e 27 anos de idade.

Logo, o drama dos jovens não é o “trabalho precário” ou a “escravidão moderna” ocasionada pela economia do século XXI, mas sim o desemprego. E o desemprego é um fenômeno econômico, que deve ser entendido — e abordado — como tal.

E, nesse sentido, se o objetivo é proteger e amparar os jovens brasileiros, e contribuir para que saiam do ócio improdutivo e resistam às tentações do crime, é crucial, acima de tudo, enaltecer e parabenizar as empresas que têm sido capazes de gerar emprego e renda para essas pessoas — mesmo porque, fornecer empregos que pagam até R$ 1,5 mil por mês (não obstante o rigor físico do trabalho) está longe de ser algo condenável.

Outro aspecto que vem sendo criticado (de forma tão ampla quanto superficial) é a “informalidade” do emprego — como se trabalhar na economia chamada “informal” fosse um demérito ao trabalhador. Mas a pergunta que não é feita é: por que esse mesmo trabalhador não consegue uma vaga no mercado “formal”?

Parte da resposta está associada ao alto custo da formalidade laboral no Brasil. Os encargos sociais e trabalhistas são as principais barreiras. Por exemplo, se você contratar um trabalhador por R$ 1.500 (valor que, como visto, alguns entregadores de aplicativo recebem por mês), e não pagar nada de vale-transporte, vale-refeição, plano de saúde, e outros benefícios, você gastará ao todo praticamente R$ 2.300 por mês (INSS, FGTS, provisão do 13º, férias etc.) — ou seja, seu gasto será mais de 50% maior que o salário.

Em algumas ocasiões, um empregado pode custar muito mais do que o dobro do salário. O corriqueiro é que ele custe, no mínimo, o dobro do salário.

A reforma trabalhista de 2017 trouxe algumas mudanças, mas ainda temos uma das legislações mais engessadas e ultrapassadas do mundo. Estamos condenando jovens ao desemprego pelas regras complexas da CLT e o alto custo da contratação para o empregador.

A qualidade da mão-de-obra

Dados do Ministério da Educação demonstram que 7 de cada 10 alunos do ensino médio têm nível insuficiente em português e matemática.

Ou seja, estão chegando ao mercado de trabalho milhões de jovens com sérias dificuldades de interpretar e escrever textos, bem como de fazer uma simples regra de três.

E aí tem-se uma combinação explosiva: jovens chegam mal preparados ao mercado de trabalho (ou seja, com baixa produtividade), e ainda têm de superar o obstáculo criado pelas regras engessadas e burocráticas para que possam ofertar sua mão-de-obra. Quem irá contratar legalmente — isto é, a um alto custo — jovens inexperientes e com baixa produtividade?

Isso é teoria econômica básica. Só é possível pagar altos salários a quem produz muito com pouco, isto é, quem gera muita receita (e lucros) para seu empregador. Se um jovem sem instrução e sem habilidades possui uma produtividade capaz de gerar apenas R$ 1.500 por mês a um eventual empregador, não tem como esse empregador lhe contratar formalmente a um custo total de R$ 2.300.

Os encargos sociais e trabalhistas são apenas uma parte dos obstáculos. Vale mencionar o outro lado do pesadelo empreendedorial, que são os outros impostos que incidem sobre as empresas e que afetam sobremaneira sua capacidade de investir, de contratar e de aumentar salários.

Para concluir

Por tudo isso, sim, as empresas de aplicativo são uma grande benesse para a economia.

Mas eis o mais importante: se há algo que milhares de garotos que pedalam fazendo entregas podem ilustrar é o espírito honesto, trabalhador e empreendedor do brasileiro que “não descansa”.

Será que nossos jovens estão despreparados para o mercado formal? Ou será que é o mercado formal é que está despreparado para os nossos jovens?

Nenhum país progride sem respeito ao trabalho. Tampouco progride condenando quem gera oportunidades e quem se propõe a encarar as adversidades e virar o jogo a seu favor, aprendendo pela experiência valores que a educação de fato não lhe deu.

Os jovens agradecem.

Douglas Sandri e Ricardo Birmann para o Mises Brasil