*Javier Dagoberto Curilem Mardones
A geopolítica voltou porque de certa maneira a história sempre se repete, não com os mesmos personagens e países, mas com as mesmas situações humanas onde prevalecem com força os valores aplicados a uma suposta sobrevivência das nações. Hoje em dia a China e USA estão travando uma guerra comercial cujo desdobramento está alcançando o âmbito da geopolítica, onde em termos práticos temos países soberanos sendo vistos como peças de um intrincado e oculto jogo de xadrez do poder. Nesse jogo georreferenciado é necessário jogar o tempo todo buscando sempre a estabilização das forças para não chegar perto do confronto direto, nesse jogo de poder é proibido ameaçar o rei ou a rainha, atores centrais desse jogo de poder. Nesse aspecto os países considerados menos relevantes servem como arestas de confrontos, ou seja, são sacrificados como no caso do peão no jogo de Xadrez , o peão no jogo de xadrez só se movimenta para frente, sendo a única peça que não se move para trás , logo, não há como reverter uma decisão sendo considerado uma peça de sacrifício, as fileiras de peões são a fronteira física ou aresta de confronto. É nas arestas que ambas potencias medem forças e testam suas armas de domínio e influência. Antes dessa nova geopolítica emergente existiu uma outra, era entre USA e a extinta URSS (União de Repúblicas Socialista Soviéticas) denominada Guerra Fria, suas arestas geográficas eram no Vietnam, Camboja, Cuba e Coreia do Norte. Nesses países eram confrontadas as forças políticas e tecnologias bélicas emergentes, eram as armas com seu poder de destruição que definiam as fronteiras físicas e em menor grau também os mercados. Hoje em dia esse jogo geopolítico, continua o mesmo, porem de um modo totalmente diferente.
O jogo bélico físico foi substituído pelo jogo da guerra virtual propiciado pelo uso de supercomputadores e satélites que, em termos práticos por exemplo, vigiam cada quilometro avançado por um navio de guerra chinês ou russo, de modo a fazer manobras de defesa e ataque em tempo real por parte da frota de navios e porta aviões dos Estados Unidos, ou seja, há uma guerra que acontece no modo virtual pelo uso de supercomputadores utilizando inteligência artificial, cujo algoritmo leva em conta o tempo de dissuasão após o lançamento de míssil equipados com ogivas nucleares, em suma aquele que explodir primeiro uma bomba nuclear em uma cidade importante do território inimigo, tem a chance de decidir o destino da derradeira guerra final. Tudo isso até agora, felizmente em termos relativos, acontece de forma eletrônica em 2D em telas de computadores sem que se passe para o mundo real, tanto isso é verdade que em conversas com parentes que moram em Berlin, Alemanha, me disseram que o tempo já calculado que eles tem para fugir para a periferia da cidade, uma vez acionado o alarme, é de dez minutos, ou seja, a ameaça é real e existe a possibilidade de esse cenário dantesco possa se tornar real um dia.
Por outro lado, temos o aspecto comercial dessa nova geopolítica, e esse lado é mais real do que virtual, não há como simular um ataque comercial e o outro lado se contrapor ao dano econômico e financeiro em tempo real, embora a bolsa de valores (capitalismo financeiro) se utilize desse meio par fazer oscilar o valor das ações e gerar lucros a custo do medo tendendo a pânico dos investidos mais incautos. No aspecto comercial na geopolítica o que manda é ação direta seja pela suspensão de compra de um determinado item ou pela não venda direta para o comprador em questão, geralmente essa prática se aplica a nações sem muito poder de ação no mercado global, ou seja, nações peões. O Brasil por ter uma participação ínfima no comercio internacional (em 2013 chegou a 1,3% das exportações e 1,4% das importações totais mundiais), não é representativo em nível global, o que Brasil vende ou oferta para o mundo é muito pouco comparado com os grandes players econômicos. Aplicado esse conceito a nossa cidade de Itabirito, percebesse claramente a nossa dependência do comercio mundial de ferro, temos uma dependência econômica visceral exclusiva com a China, mas pela lógica da geopolítica o Brasil e em consequência Itabirito não nos torna relevantes, nós somos considerado, em última instancia, estratégicos por sermos um ator (player) que mantem em equilíbrio o preço do minério de ferro com alto teor de ferro em tempos de alta demanda desse commodity.
O Brasil é o segundo maior produtor mundial, após a China, e divide com a Austrália a liderança das exportações de minério de ferro, o teor de ferro do minério da Austrália é de 64% e suas reservas são maiores que a do Brasil, ou seja, é um fornecedor com uma oferta mais competitiva que do Brasil (teor de ferro 53,2%). Essa contradição entre a pouca importância comercial internacional do Brasil e a nossa dependência econômica como cidade perante a China faz com que estejamos expostos a um conflito geopolítico: “A suspenção das compras de minério de ferro por parte da China devido a nova geopolítica impulsada por essa nação”. Hoje há pretextos geopolíticos para isso, esses motivos vão desde a crise na Venezuela, onde a China tem bilhões de dólares em investimento que estão em risco por uma intervenção militar externa, situação que pode piorar pelo alinhamento do Brasil de Bolsonaro com USA, outro motivo ou pretexto a ser considerado é o desaquecimento da economia global, na qual a China pode ser obrigada a optar por favorecer parceiros mais amigáveis que o Brasil, leia-se “Consenso de Beijing”, a ideia desse novo consenso ao estilo chinês é dar maior preponderância ao papel do Estado, à soberania e à geopolítica. Caso essa suspensão de compra de minério de ferro venha acontecer entraremos em um colapso econômico sem precedente na história de Itabirito.
O motivo para esse colapso é simples de explicar, o dinheiro novo na forma de salário que entra todo mês na economia doméstica de Itabirito, e ativa a cadeia de pagamento, é uma espécie de locomotiva que carrega uma serie de vagões que conformam a economia local , portanto, sem esse pulso monetário mensal a atividade econômica e financeira se retrai imediatamente, haja vista que, uma parte significativa desse dinheiro novo foi invertido na área imobiliária, ou seja, o dinheiro foi imobilizado, não circula para o consumo diverso, e isso é notório devido ao elevado número de loteamentos já vendidos e ainda por vender. Fica evidente que na tentativa de criar um suposto ativo financeiro ao longo do tempo foi gerada uma bolha imobiliária, haja vista que, esse suposto ativo, que geraria renda em um futuro próximo, pode vir a tornar se um passivo financeiro real com resultados desastrosos para as famílias, principalmente aquelas que tem dividas por conta dessa bolha imobiliária. Esse fenômeno econômico já aconteceu em outros lugares do planeta por conta da crise de 2008 e até hoje é um problema sem solução.
Penso que este cenário possível de ser real deve servir de alerta para a urgente mudança da matriz econômica do município, não dá mais para continuar contando com o pulso monetário mensal vindo da mineração, e como diz o refrão daquela famosa canção “ Vem, vamos embora, que esperar não é saber, Quem sabe faz a hora, não espera acontecer” vamos fazer a hora montando um comitê de crise apartidário para mudar a matriz econômica, aumentando a cultura empresarial de nossos empreendedores, levando o empreendedorismo para nossos jovens, fomentando o conhecimento de culturas com altos índices de IDH, e assim por diante, enfim fazer algo urgente porque nossa data limite está chegando mais cedo do que a gente imagina.
Javier Dagoberto Curilem Mardones é servidor do Saae de Itabirito