Editorial do Estadão defendendo os antifascistas é o verdadeiro ataque à democracia

Antifascistas, segundo o Estadão

Artigo de opinião

O jornal O Estado de S. Paulo defendeu, hoje (4), no editorial “A rua não tem dono”, que antifascistas saiam às ruas livremente para defender a democracia. Ao ler isso, você acha que a imprensa chegou ao fundo do poço, mas descobre que há ainda um alçapão.

O texto diz que Jair Bolsonaro partiu para o ataque ao qualificar de “marginais e terroristas” os movimentos antifascistas que saíram às ruas no último final de semana para protestar contra o seu governo.

“Até agora, as ruas pareciam ser um território francamente dominado pelos camisas pardas do bolsonarismo”, garante o editorial.

Comparar os patriotas que vestem o verde e amarelo e sempre manifestaram pacificamente aos integrantes das Sturmabteilung é de uma canalhice extrema. Nesse caso, a tática já é conhecida: acuse-os do que fazemos.

Para quem não sabe Sturmabteilung é o termo abreviado para SA traduzida como “Tropas de Assalto” a milícia paramilitar nazista alemã, célebre por se valer da violência contra seus opositores e por usar “camisas pardas”.

Quem viu os integrantes das torcidas organizadas, mascarados, usando preto, armados e espancando os outros manifestantes não teve dúvidas sobre quem são os verdadeiros “camisas pardas”.

“Além disso, tem sido frequente, nas manifestações bolsonaristas, a presença de símbolos de um grupo paramilitar ucraniano de extrema direita que se identifica com o nazismo”, acrescenta o editorial.

Pura falácia, o embaixador ucraniano, Rostyslav Tronenko, esclareceu que a bandeira rubro-negra é ”uma bandeira histórica que significa a terra fértil da Ucrânia, com a faixa negra, e a vermelha o sangue que ucranianos derramaram na luta pela soberania, liberdade e independência”.

O festival de bobagens prossegue e que os cidadãos cansados de tanta “afronta à democracia”, resolveram deixar o confinamento para demonstrar seu absoluto repúdio a essa escalada autoritária e são chamados de “terroristas” pelo presidente.

Ou seja, o tal isolamento social virou decisão subjetiva, individual e agora é válido descumprir orientação da OMS.

Esse editorial eleva a voz da esgotosfera e deve ser levado a sério, pois o verdadeiro golpe contra a democracia já está em curso acelerado com amparo de setores da imprensa, do judiciário e do legislativo.

O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) conduz internamente um processo para decidir, em agosto, se apresenta ou não um pedido de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro.

A OAB também prepara, ao lado de outras entidades, como a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), a Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB), centrais sindicais e recém-criados movimentos de defesa da democracia, um ato virtual em apoio ao Supremo Tribunal Federal (STF) na próxima segunda-feira (8).

O grupo articula a formação de uma grande rede, com interlocuções em toda a sociedade, inclusive no Congresso, para confrontar ameaças autoritárias do presidente.

O curioso é que jamais se viu no país tanta democracia e respeito aos direitos individuais como temos visto nesse governo.

Vale lembrar que a democracia tem como princípios básicos numa sociedade: a liberdade individual; a liberdade de expressão e a igualdade de direitos políticos.

E tais princípios em momento algum estão sendo afrontados.

O “ovo da serpente” do golpe contra a democracia está sendo chocado em um ambiente de ódio, intolerância e violência no Brasil e se não for contido, trará consequências nefastas para todos nós.

Marcelo Rebelo é jornalista e editor do site Mova-se Inconfidentes