O vereador Max Fortes, eleito para seu quarto mandato e ex-secretário de Desenvolvimento Econômico de Itabirito, concedeu no dia 9 de outubro uma entrevista ao jornalista Marcelo Rebelo. Reconhecido por sua defesa da diversificação econômica e da austeridade fiscal, Fortes é considerado um dos vereadores mais técnicos da Câmara Municipal. Na conversa, ele se mostrou preocupado com situação financeira do município, sobretudo com o aumento dos gastos com a folha de pagamento e abordou os desafios que a cidade enfrenta para diversificar a economia e reduzir sua dependência da mineração.
Jornalista Marcelo Rebelo: Vereador Max Fortes, mesmo com essa arrecadação recorde da Prefeitura, o senhor tem mencionado uma situação financeira preocupante em Itabirito. Poderia explicar mais detalhadamente esse cenário?
Max Fortes: Claro. Apesar dessa arrecadação recorde da Prefeitura, jamais visto na história de Itabirito, a situação requer atenção urgente, porque cerca de 80% da arrecadação do município depende diretamente da mineração. O grande problema é que não avançamos em políticas públicas para diversificar nossa economia. Nesse ano de 2024 menos de 1% do orçamento foi aplicado em projetos voltados à diversificação, o que é muito preocupante.
Marcelo Rebelo: Mesmo com a chegada de grandes empreendimentos, como a Coca-Cola em 2015, a cidade ainda parece ser bastante dependente da mineração. Qual o impacto dessa dependência?
Max Fortes: A instalação da Coca-Cola foi um avanço, mas reduziu apenas 8% da nossa dependência da mineração. Ainda há um longo caminho para reduzir essa vulnerabilidade. Se não investirmos seriamente em diversificação, corremos o risco de ficarmos reféns das oscilações do mercado global de commodities.
Marcelo Rebelo: Falando sobre o mercado global, quais os riscos dessa dependência da mineração, especialmente com a atual desaceleração da economia chinesa?
Max Fortes: Esse é o ponto central da minha preocupação. A China é um dos maiores consumidores de minério de ferro, e uma desaceleração na sua economia pode causar uma queda significativa na nossa arrecadação já em 2025. Apesar da vida útil das minas em Itabirito ser de 35 anos, a variação dos preços no mercado internacional pode gerar uma crise no curto prazo, afetando diretamente nosso orçamento.
Marcelo Rebelo: Vereador Max Fortes, dados do site Fiscalizando com o TCE mostram que, desde 2022, a prefeitura de Itabirito tem registrado despesas superiores à arrecadação. Em 2022, foram arrecadados R$ 662,8 milhões, enquanto as despesas chegaram a R$ 674,6 milhões. A situação se agravou em 2023, com um gasto de R$ 1 bilhão para uma arrecadação de R$ 799,7 milhões, e, em 2024, até agosto, a arrecadação foi de R$ 558,5 milhões, mas as despesas já atingiram R$ 752,1 milhões. Como o senhor avalia esse aumento constante nos gastos em relação à receita, e o que precisa ser feito para reverter essa situação?
Max Fortes: Esses números são extremamente preocupantes e revelam uma gestão financeira que precisa imediatamente de um maior controle. É inaceitável que os gastos continuem crescendo dessa forma, sem uma contrapartida em termos de planejamento ou contenção de despesas. Essa espiral de desequilíbrio só vai agravar e poderá gerar uma crise econômica do município, comprometendo o futuro de Itabirito. O poder público precisa urgentemente rever suas prioridades, conter o aumento da folha de pagamento e reavaliar investimentos mal planejados. Sem uma mudança imediata na forma como as finanças estão sendo geridas, corremos o risco a médio prazo, de paralisar serviços essenciais, o que impactará diretamente a população.
Marcelo Rebelo: E como o senhor vê a questão da folha de pagamento dos servidores públicos? Isso também é um fator de pressão nas finanças?
Max Fortes: Sem dúvida. Em 2025, a previsão é que cerca de R$ 400 milhões, de um orçamento de 880 milhões, sejam gastos apenas com a folha de pagamento dos servidores. Isso, somado à uma provável queda na arrecadação nos próximos anos, investimentos mal realizados não aproveitando esse período de arrecadação recorde que estamos vivenciando, pode em um futuro próximo, complicar a situação financeira da cidade. É preciso um controle rigoroso dos gastos para evitar o colapso.
Marcelo Rebelo: Além da folha de pagamento, o senhor tem criticado valores elevados em desapropriações. Como isso afeta as finanças do município?
Max Fortes: Foram gastos cerca de R$ 120 milhões com desapropriações nos últimos anos. Esse dinheiro poderia ter sido melhor alocado em áreas sociais e no fomento à diversificação econômica. Esses gastos exagerados são um reflexo da falta de planejamento e controle na administração pública.
Marcelo Rebelo: O senhor também tem relatado preocupação com a reforma tributária e seus impactos. O que podemos esperar com essas mudanças?
Max Fortes: A nova reforma tributária vai mudar a forma de distribuição de impostos para os municípios brasileiros. Estudos da AMIG (Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais) indicam que essas mudanças para os municípios mineradores, como Itabirito, podem reduzir a nossa arrecadação a médio prazo, o que agravará o desequilíbrio fiscal de nossa cidade.
Marcelo Rebelo: Diante desse cenário, que mensagem o senhor deixa para o próximo prefeito, Elio da Mata, que assumirá a gestão da cidade?
Max Fortes: O futuro prefeito precisa estar ciente de que, sem uma mudança radical nas políticas de gastos, nossa dependência da mineração, a crescente folha de pagamento e os impactos da reforma tributária poderão resultar em cortes severos em áreas essenciais, como saúde, educação e assistência social. É crucial adotar um planejamento estratégico e uma gestão fiscal mais rígida para evitar esse cenário negativo.
Marcelo Rebelo: E quais seriam as medidas mais urgentes para evitar uma crise maior?
Max Fortes: O governo municipal precisa agir imediatamente. Sem controle dos gastos e priorização de investimentos corretos, poderemos enfrentar uma crise nos serviços públicos, o que afetará diretamente a população. A diversificação econômica e uma gestão fiscal mais eficiente são mais do que urgentes.
Marcelo Rebelo: Para finalizar, o senhor se compromete a continuar defendendo essa pauta?
Max Fortes: Sim, meu compromisso é claro. Continuarei defendendo a diversificação econômica e cobrando mais planejamento e controle das finanças públicas. Mas a grande questão é: será que conseguiremos reverter essa espiral negativa a tempo de evitar uma crise no futuro próximo?