Nas tragédias a palavra chave é: Organização

As chuvas trouxeram grandes estragos a Itabirito (Foto: PMI)

ARTIGO DE OPINIÃO

Inicio este artigo, apresentando o conceito de ORGANIZAÇÃO:

“Organização é a forma como se dispõe um sistema para atingir os resultados pretendidos. Normalmente é formado por uma, duas ou mais pessoas que executam funções de modo controlado e coordenado com a missão de atingir um objetivo comum, com eficácia.”

Fonte: sítio – significados.com.br

Escolhi esta palavra com o intuito de explicar, após os tristes acontecimentos ocorridos em Itabirito, o que a FALTA de organização pode ocasionar. Vimos que a enchente deste início de ano foi realmente absurda, do ponto de vista de volume de água e devastação. É inegável que ninguém pode ser culpado por isso, por ser um fenômeno da natureza. Mas, também, é inegável que os efeitos desta devastação poderiam ter sido minimizados, se o poder público tivesse atuado com retidão e eficiência, conforme explanarei abaixo.

Pois bem, desde a sexta-feira, dia 07 de janeiro de 2022, o Rio Itabirito vinha dando sinais de que poderia sair de seu leito, com o alto volume de chuvas que estavam caindo. Além disso, os serviços de meteorologia de diversos órgãos informavam que a previsão era de mais chuvas para nossa região, com índices pluviométricos altíssimos.

Já com o Rio dando sinais de que estava para transbordar, nosso querido pároco da Igreja de São Sebastião resolveu alertar a população tocando os sinos com insistência e, graças a ele, os comerciantes e a população começaram a perceber que algo estava errado.

Absurdamente, após essa atitude salvadora da Igreja, recebi um áudio de Whatsapp com a voz do Secretário de Segurança e Trânsito informando que foi um equívoco do Padre ter alertado a população e que não deveríamos ficar preocupados, pois não foi um “alerta” dado pela Prefeitura. Mais absurdamente ainda, durante a noite, o excelentíssimo senhor Prefeito Municipal fez um vídeo e espalhou nas redes sociais, “querendo tranquilizar a população”, de que o Rio estava dentro dos seus parâmetros e de que nada aconteceria. Meu Deus!!!

Era óbvio que a atitude correta seria agradecer ao Padre pelo que fez e passar no comércio avisando de que poderíamos ter uma enchente. Era óbvio que, diante de todos os alertas dados pelos serviços de meteorologia e da situação em que já se encontrava o Rio, fosse feita uma força-tarefa para retirar os moradores e seus pertences no bairro São Geraldo e em outros bairros atingidos, antes que a enchente tomasse as casas. Era óbvio que, diante de todos os sinais que estavam sendo apresentados, o correto seria ter a PRECAUÇÃO, pois, como diz o ditado, “ANTES PREVENIR, DO QUE REMEDIAR”, mas não foi a decisão tomada pelas autoridades. Preferiram fingir demência a alertar o povo!

No sábado, dia 08 de janeiro de 2022, o pior aconteceu e uma das maiores enchentes da história de Itabirito veio a ocorrer, devastando casas, comércios, vias públicas e tudo que via pela frente. Muitas perdas poderiam ter sido evitadas, mas acreditem, o suplício estava só começando e, voltando ao início desse texto, a FALTA DE ORGANIZAÇÃO GOVERNAMENTAL passou a mostrar sua face.

Baixadas as águas após longo período de enchente, o povo teve que começar a ajudar o próprio povo, pois o staff governamental começou a “bater cabeça”. O prefeito passou a aguardar que alguém (empresas mineradoras em que sempre se apoiou) fizesse alguma coisa. Essa é a marca desse governo, sempre esperar que alguém faça alguma coisa às suas expensas, para depois falar que foi a Prefeitura que fez!

E foi a partir daí que a solidariedade de um grande número de pessoas e empresas veio à tona. Máquinas de particulares, da Vale, Gerdau, Ferro Puro, Irmãos Machado e tantas outras, entraram em cena para tentar ajudar. Pessoas começaram a fazer doações e mais doações de toda ordem, se unindo para tentar dar um mínimo de conforto para aqueles que sofreram com a enchente. Vi gente batendo pá e enxada tirando a lama, outros fazendo comida e entregando marmitex, suco, café e lanches para aqueles que trabalhavam e para tantos outros que tinham perdido tudo, ou quase tudo. Esse foi um ponto alto e emocionante dessa tragédia.

Por outro lado, a DESORGANIZAÇÃO do governo assustava, pois aqueles que queriam ajudar não sabiam por onde começar e não tinham orientação dos órgãos públicos responsáveis, para fazer uma ação coordenada. Um operador de máquina voluntário, querendo ajudar, com a melhor das intenções, acabou jogando lama de volta ao Rio e foi crucificado pela própria Prefeitura, que era quem deveria estar fazendo o serviço, em “nota oficial”. Pois saiba, senhor operador, que você tem o nosso respeito e admiração, pois fez o que dava para fazer naquele momento, e que aqueles governantes que te culparam, não tem é caráter para botar a cara e assumirem a culpa!

Para piorar a situação, diante de tantas ocorrências, vimos a fragilidade de uma Defesa Civil Municipal despreparada e desamparada para trabalhar em uma ocorrência tão vultuosa. Sem querer culpar seus componentes, que fizeram o que estava ao alcance, até hoje, dia 14 de janeiro, tem pessoas esperando a passagem daquele órgão em suas casas para verificar algum dano e nada! Vimos, também, nossos guerreiros da Guarda Civil Municipal tentando resolver um trânsito que se tornou caótico devido à falha de outros setores e de seus comandantes (se é que tem algum), que não lhes dão o devido apoio e orientação.

Enfim, a DESORGANIZAÇÃO deste governo está, neste momento, batendo em nossas caras. Tudo sujo, trânsito caótico, servidores públicos cansados e estressados, população desamparada, comércio quebrado, vias fechadas, casas dependuradas, vidas em risco e tudo por causa de um Chefe de Executivo inerte, com seus assessores sem saber o que fazer!

Por fim, quero expor dois absurdos maiores que presenciei nestes dias de caos. O primeiro deles, foi de um servidor comissionado chamando de “FILHOS DA PUT…”, em rede social (devidamente printado e será enviado ao MP), aqueles que criticavam as ações (ou inércia) do governo. Essa é realmente a cara dessa gestão! Saiba, senhor servidor, que vivemos em uma sociedade democrática e as pessoas têm o DIREITO CONSTITUCIONAL de reclamar o que quiserem e fazendo-o com o devido respeito, não podem ser tratadas dessa forma.

O segundo absurdo aconteceu comigo mesmo. Fui tentar ajudar 4 famílias que tiveram suas casas colocadas em risco devido ao deslizamento de um barranco, exatamente no momento da pior chuva. A primeira ação que tomei, foi procurar lona para cobrir o local do deslizamento, tentando minimizar o risco. Para tanto, fui até à Defesa Civil para ver se tinham alguma para fornecer e me informaram que o estoque tinha acabado. Sendo assim, me desloquei ao Supermercado Opção, que era o único estabelecimento aberto no momento, e adquiri 25 (vinte e cinco) metros de lona, no valor de quase R$ 250,00 (duzentos e cinquenta) reais. Voltando ao local, quando comecei a esticar a lona em local de alto risco, o dono de uma das casas informou que tinha amigos no executivo e que a lona dele estava chegando. Me assustei e desacreditei na informação, haja vista que eu já tinha procurado a Defesa Civil, que tinha me informado não ter mais lona. Para meu espanto, uns 15 (quinze) minutos após estender toda a lona, vi a camionete dessa mesma Defesa Civil chegando com um rolo fechado de lona preta, procurando o exato endereço desse senhor, para estender a lona.

Moral da história: se você é pobre e sua casa está caindo, não precisa procurar lona, pois o estoque acabou… mas se você tem amigos no governo, é só aguardar, que chegará a sua.

Por fim, espero do fundo do meu coração, que aqueles que estão se omitindo em ajudar o povo, colha o que estão plantando. Isso não é desejar o mal de ninguém, mas tão somente aguardar a Lei do Retorno. Faz parte de um outro ditado popular: “Aqui se faz, aqui se paga!”. Enquanto personagens do alto escalão do governo se regozijam em seus luxuosos veículos novos, com seus sítios e fazendas sendo exibidos nas redes sociais, a população está sofrendo pelo ocorrido. Que Deus os ajudem!!!

*Os artigos de opinião publicados neste site são de responsabilidade de seus autores

Ricardo Gomide é professor de filosofia, jornalista, advogado e um entusiasta político nas horas vagas