Buscar formas alternativas para dar destino às 12 toneladas mensais de lodo proveniente de sua Estação Tratamento de Esgoto (ETE) é uma preocupação constante do Saae. Ao invés, de continuar descartando o material no aterro sanitário do município, a Autarquia trabalha em um projeto para utilizá-lo na recuperação de áreas degradadas.
Apesar de contaminante, o resíduo ao passar por um tratamento de higienização tem alto potencial para ser utilizado para esse fim.
O uso do lodo de esgoto para recuperar solo degradado com pouca fertilidade ou muita acidez, ultimamente está tendo uma forte demanda, pois além de fornecer elementos químicos importantes para as plantas, este também condiciona as propriedades físicas do solo, devido a grande quantidade de matéria orgânica nele presente.
Partindo desse princípio, o pesquisador da Universidade de Ouro Preto (UFOP), geógrafo, e químico no Saae, Raphael Silva, trabalha há mais de um ano em um projeto piloto para transformar o lodo da ETE em um condicionador para a recuperação do solo degrado em áreas de Itabirito.
A ideia surgiu com o intuito de dar uma alternativa sustentável na destinação final do lodo gerado. A partir daí, em pesquisas buscou soluções alternativas para tratar e aproveitar esse lodo como alternativa economicamente e ecologicamente viável para se aplicar.
“Ao participar de algumas reuniões do Subcomitê do Rio Itabirito, notei a existência de muitas aéreas degradadas e percebi a oportunidade para transformar o resíduo em um produto com potencial para recuperar, restaurar e regenerar esse solo a baixo custo”, explica Raphael.
Assim surgiu o projeto: “Viabilidade do uso do lodo de reatores anaeróbios no condicionamento de solos degradados”, que está sendo desenvolvido na ETE do Marzagão.
Processo simples
O processo consiste na retirada do lodo do reator, onde deve ser condicionado em leitos de secagem de 60 m², para sofrer desidratação. Então ele é misturado com cal numa proporção de 30% a 50% em relação a massa seca (lodo) e o percentual de umidade.
A partir daí, o material fica em repouso por 60 dias, em área aberta, evitando chuvas, aproveitando a energia do sol para eliminar os patógenos. Ele é periodicamente misturado e depois de 60 dias (tempo de maturação) retira-se alguns lotes, que foram encaminhados para o laboratório, onde foram feitas análises para saber se o produto contém parasitas.
Raphael conta que já foram feitos alguns testes e os resultados foram ótimos. Segundo ele, aplicou-se o resíduo tratado numa área de 9m² na ETE com pH ácido. Ali foi plantado feijão andu num ponto e em outra área girassol para verificar se o resíduo daria condições para essas espécies se desenvolverem.
“Tivemos uma grata surpresa, ao constatarmos que as espécies se desenvolveram além do esperado, no solo onde o biosólido foi aplicado”, comemorou Raphael.
Ele adianta que a intenção agora é buscar parcerias, já no segundo semestre de 2019, para produzir o produto em maior escala e assim recuperar grandes áreas degradadas em Itabirito e região.