Vereadores de Itabirito: O Desafio de uma Oposição Estratégica e Assertiva

É necessário focar menos nas redes sociais e mais nas ações efetivas de fiscalização

A nova composição da Câmara Municipal de Itabirito sinaliza uma configuração que, para a oposição, trará grandes desafios. Com 15 vereadores eleitos, ao menos 10 deverão integrar a base de apoio ao novo governo de Elio da Mata, criando um cenário no qual os poucos vereadores de oposição precisarão agir com inteligência estratégica para não se tornarem irrelevantes frente à maioria.

Em tempos onde a presença online é uma ferramenta importante para ampliar o alcance das ideias, a oposição em Itabirito deve ir além das redes sociais e vídeos de curta duração. Embora plataformas como TikTok, Instagram e Facebook sejam úteis para dialogar com a população e informar, esses vereadores precisarão entender que oposição verdadeira e eficaz se faz principalmente nos bastidores, nas fiscalizações e com ações robustas e formalizadas que cobrem o cumprimento da lei e a transparência nas ações do Executivo.

Um dos principais caminhos para essa atuação assertiva está na fiscalização rigorosa das licitações, seguindo a máxima “follow the money” (“siga o dinheiro”). Esse conceito implica em rastrear o fluxo dos recursos públicos e onde eles são aplicados, identificando possíveis desvios ou interesses particulares. Em muitas prefeituras, o processo licitatório é porta de entrada para práticas não republicanas, como o direcionamento para favorecer empresas específicas, a ausência de concorrência real e a aprovação de orçamentos que fogem dos valores de mercado. Com essa abordagem, a oposição pode embargar processos suspeitos e garantir que cada centavo do dinheiro público seja revertido em benefício da população.

Outro ponto crucial para uma oposição eficaz é fiscalizar a evolução patrimonial de secretários e de servidores ocupantes de cargos estratégicos. Monitorar eventuais aumentos de patrimônio incompatíveis com os salários é essencial para combater a prática do enriquecimento ilícito e preservar a integridade da gestão pública. Esse tipo de ação, além de proteger o dinheiro público, demonstra à população o compromisso da oposição em combater a corrupção de forma transparente e responsável.

Denúncias sobre obras mal executadas, superfaturamentos e falta de transparência no uso do dinheiro público também devem ser alvos prioritários da oposição. Esses parlamentares têm o dever de proteger os cofres públicos de gastos desnecessários, evitando que interesses privados se sobreponham ao bem coletivo. Estar atento a cada contrato mal justificado é uma das formas mais diretas de evidenciar uma oposição combativa, responsável e comprometida.

Além de ações diretas, esses vereadores podem contar com o apoio de instituições importantes para a fiscalização, como o Ministério Público (MP) e o Tribunal de Contas. Formalizar denúncias de irregularidades e cobrar o andamento das investigações devem ser rotinas constantes no trabalho da oposição, criando um canal direto com os órgãos de fiscalização e, assim, reforçando a função de equilíbrio de poderes.

A presença ativa e o apoio aos servidores municipais, por meio do diálogo com o Sindicato dos Servidores Municipais (Sindsemi), é outro passo essencial. O sindicato tem sido uma voz importante em prol dos servidores, trazendo à tona diversas denúncias, e cabe à oposição unir-se a essas pautas. Com uma postura firme, esses vereadores podem acompanhar de perto cada denúncia de má gestão que afete os servidores, cobrando explicações, buscando soluções e, em casos de negligência do Executivo, levando os problemas ao conhecimento do MP.

Para concluir, a oposição na Câmara de Itabirito precisa entender que, sem uma postura firme e sistemática, a mera presença online será insuficiente. A maioria governista tende a “atropelar” aqueles que se contentarem em ser apenas figuras midiáticas sem ações práticas. O papel de oposição exige mais do que curtidas e compartilhamentos; demanda fiscalização, ação judicial, cobrança contínua e, sobretudo, coragem.

*Marcelo Rebelo é jornalista e editor do site Mova-se Inconfidentes