‘Democracia em Vertigem’ é peça de ficção feita para os que ainda creem no “gópi”

Democracia em Vertigem é um documentário de Petra Costa

O autodenominado ‘documentário’ Democracia em Vertigem que estreou na Netflix, em junho de 2019, tem sido saudado pela esquerda como uma prova inconteste do “gópi” das elites contra o PT. Na verdade é somente uma peça de propaganda petista para enganar os tolos a respeito do impeachment de Dilma e da prisão de Lula.

O filme reproduz a versão da documentarista Petra Costa e do PT sobre a Lava Jato, a queda de Dilma e a prisão de Lula. Para qualquer brasileiro com um pouco de moderação, senso do ridículo ou distanciamento da esquerda é uma versão risível da realidade.

O filósofo e jornalista Leandro Narloch da Folha fez um ótimo artigo sobre essa peça de ficção, que publicamos abaixo. Vale a leitura.

Leandro Narloch

‘Democracia em Vertigem’ é filme da Disney com Brasília no lugar das animações

O documentário “1964 — O Brasil entre Armas e Livros”, lançado em março pelo Brasil Paralelo, foi devidamente criticado por reproduzir uma versão oficialesca da ditadura militar. Mostrava a esquerda como o mal e a direita como encarnação de todo o bem. Agora surgiu um documentário simétrico: o “Democracia em Vertigem”, de Petra Costa.

A documentarista Petra Costa vive num Brasil paralelo da esquerda. Com voz chorosa, esforçando-se para expressar angústia, defende que o PT “se deixou corromper” pelas empreiteiras só porque não tinha maioria no Congresso. Relaciona a deposição de Dilma com os séculos de opressão dos escravistas da casa grande. Confunde “democracia” com “esquerda no poder”.

O Lula do filme é o homem generoso e sensível que consola os amigos tristes por sua prisão iminente. Lula aparece em cenas domésticas e espontâneas. Dilma ouve samba e fala sobre sentimentos. Corta para os manifestantes antipetistas. Eles são raivosos. Eles são agressivos e mal-educados. Eles têm ódio no coração.

É interessante retratar a humanidade de corruptos e pessoas odiadas. Costumamos enxergar criminosos como monstros, quando são mais parecidos com a gente do que imaginamos. Mas por que reservar aos petistas um retrato humanizado e profundo? Por que não mostrar nuances e dilemas de corruptos e suspeitos de outros partidos?

As omissões são reveladoras. Petra retira da história os ex-petistas desiludidos, como Marta Suplicy, Fernando Gabeira, Marina Silva, e as delações de Delcídio do Amaral e Palocci. Esquece que Dilma se candidatou a senadora e ficou num constrangedor quarto lugar. Nada fala sobre as investidas do PT à democracia, como o patrocínio de estatais a blogs governistas.

Algumas informações são pura fake news. Na campanha de 2014, diz o filme, “parte das empreiteiras do PMDB apoiou Aécio, acreditando que seus interesses estariam mais alinhados”. Bem, das empreiteiras que mais doaram naquela eleição, Dilma recebeu R$ 64 milhões, quase o dobro do que foi doado a Aécio.

Temer, segundo Petra, é um “político conservador”. Temer, o deputado constituinte que votou contra a pena de morte e a favor do aborto, que em 2000 defendeu o financiamento público de campanhas, foi vice na chapa de Erundina em 2004 e se opôs à redução da maioridade penal em 2013.

O documentário lamenta o tradicional conluio entre empreiteiras e políticos. Então não seria o caso de defender a operação que quebrou essa tradição? Para a mãe de Petra, porém, a Lava Jato foi “uma política de elite para eliminar a ameaça de esquerda, nem que para isso fosse necessário eliminar parte da elite”. Bingo! A elite, de acordo com essa teoria conspiratória, é uma força homogênea cujos desígnios sempre mal-intencionados determinam o destino do país.

Comparei o documentário a “1964”, mas há melhor. Como em “O Rei Leão”, um velho maligno (Temer) rouba o trono de Simba (o PT). Como em “Dumbo”, as pessoas rejeitam Dilma por suas esquisitices, sem reparar nas virtudes ocultas. “Democracia em Vertigem” é filme infantil da Disney com imagens de Brasília no lugar das animações. É o relato de “millennials” de esquerda, de riquinhos melindrados porque o povo os contrariou.

Leandro Narloch é jornalista e mestre em filosofia pela Universidade de Londres