A notícia veiculada no dia (26) de que a prefeitura promete reformar o Casarão Histórico de mais de 300 anos, no bairro Boa Viagem e que pertenceu à família de Paulo Josafá, foi recebida com um misto de alívio e desconfiança por familiares do antigo dono.
Adriano Josafá, neto do antigo proprietário, reconhece que a promessa de intervenção é bem vinda e representa a preservação de importante patrimônio histórico e cultural da cidade. Por outro lado, ele teme que o anúncio não passe de puro marketing eleitoral e que a reforma não saia do papel.
Para garantir que não está sendo leviano, Adriano produziu um vídeo de nove minutos, no qual conta parte da história do “Casarão dos Josafá”, denunciando que o lastimável estado em que se encontra o imóvel deu-se por negligência e abandono por parte do poder público municipal.
Ele denunciou que em 1992 o imóvel foi tombado como Patrimônio Histórico pela prefeitura e os donos nunca receberam, como contrapartida, qualquer verba para a manutenção do mesmo.
Segundo Adriano, apesar das dificuldades, a família Josafá sempre cuidou como pôde do bem, chegando a ser multada em 2002, pelo Conselho de Patrimônio Histórico, por descaracterizar o casarão por causa de uma pintura.
Ele conta que devido aos altos custos e empecilhos para dar manutenção, a família optou, em 2009, pela alienação onerosa e por 120 mil reais, o bem passou a pertencer à prefeitura, que prometeu reformá-lo e torná-lo sede do acervo Cultural e Histórico da cidade.
“Infelizmente, tudo ficou na promessa e o casarão foi totalmente abandonado à mercê das chuvas, o mato tomou conta e o local passou a ser vítima de vandalismo e utilizado como ponto de usuários de drogas”, lamentou.
Adriano acrescenta que a única intervenção do poder público foi a colocação de uma lona amarela no telhado, em 2017, por conta das fortes chuvas, que pouco não colocaram o casarão abaixo.
Confira entrevista com Adriano Josafá
Qual seu objetivo com a produção desse vídeo?
Adriano: Toda história tem dois lados. Decidi produzir esse vídeo para trazer à tona o outro lado dessa realidade, para que a população entenda que o estado de total degradação do imóvel é o resultado do descaso e irresponsabilidade da própria prefeitura e do conselho do Patrimônio Histórico e Cultural do município e não da família Josafá.
Quando li a matéria anunciando a reforma, fiquei com a sensação de que havia uma nítida tentativa, por parte da prefeitura, de se eximir da responsabilidade pelo estado de ruínas em que se encontra esse patrimônio de valor histórico, cultural e arquitetônico incalculável. É curioso lembrar que enquanto éramos os responsáveis pelo casarão, a prefeitura foi extremamente rigorosa conosco. Não podíamos colocar um prego na parede, que logo aparecia um fiscal do conselho do patrimônio a nos acusar de descaracterizar o imóvel. Nunca nos ofereceram um centavo de recursos para investir na conservação. Mas quando a prefeitura assumiu o imóvel, há dez aos, não se viu o mesmo rigor. Não fizeram o dever de casa, não deram o exemplo.
Qual o sentimento da família Josafá ao ver o casarão em tal estado de abandono?
Adriano: Lamentamos profundamente. Nossas memórias de infância, nossos almoços de domingo com a família reunida, nossas brincadeiras no enorme quintal, cheio de frutas, patos, galinhas, porcos, pés de café, as festas de casamento, as ceias de Natal que aconteceram naquele local. São questões afetivas que se tornaram pequenas diante da importância histórica e simbólica daquele espaço. Quando vendemos o imóvel para a prefeitura, foi dito que nele se instalaria o acervo cultural. Dessa forma, toda a população teria acesso ao espaço, que seria um imóvel de referência para todo o conjunto arquitetônico da cidade. Mas 10 anos se passaram. O telhado caiu, o assoalho foi roubado, o vandalismo pôs abaixo a imponência do casarão… e tudo isso poderia ter sido evitado, se houvesse de fato empenho em proteger o patrimônio.
Você acredita realmente que agora o “Casarão dos Josafá” vai ser reformado?
É mais adequado chamá-lo agora de “Casarão Histórico do Povo de Itabirito”, pois desde 2009 é um bem público. Mas tenho minhas dúvidas se a obra vai ser de fato concluída. Além disso, o cenário político é incerto. O chefe do executivo acaba de ser cassado. Uma Eleição extemporânea está para acontecer. Diante desse cenário de dúvidas, escândalos e incertezas, não me sinto confiante. Para que tudo acorra com transparência e lisura, conto com o acompanhamento do Ministério Público, para que fiscalize as licitações e o uso adequado dos recursos destinados a salvarem o casarão.
Confira o vídeo sobre a decadência do Casarão